Praia de Ghaladl

— O prazer é todo meu. — Diria novamente coçando o couro cabeludo com um sorriso esboçado no rosto. Afinal, não era todo dia que encontrava pessoas gentis como ela.

Alguns segundos depois notei que havia um grupo de pessoas ali por perto e destes um senhor se aproximava. Então me virei em direção a ele enquanto mordia um pedaço do pão que acabara de sacar da mochila.

Ao adormecer, Emanuel começa a ter a sensação de afogamento: abre seus olhos (no sonho) e está debaixo d'água, afundando cada vez mais. Seu corpo se torna cada vez mais pesado e a visão também. Sentia como se estivesse quase no estágio final de afogamento, sentindo uma dor lacerante por todos o seu corpo. Sussurros ecoavam por sua cabeça — "I'a R'lyeh... siga o propósito divino" — E os mesmos impediam-no de ter um sono tranquilo, fazendo com que o Myrddraal agitasse-se.

A manhã havia passado, já era tarde, por volta das 16:00. Neel havia corrido da cidade, uma vez que sentia-se incomodado com a presença e atitude das pessoas de lá. Sem saber o porque, decidiu parar na praia e ver o mar antes de ir embora daquela região portuária. Todos podem vê-lo.

Percebi que havia um cara conosco, correndo. Ele não parecia ter nos notado. Quem seria ele? Estava pronto para chamar sua atenção, quando o homem que estava por perto da garota acordou do nada, dizendo que deveríamos ir para a cidade. Bufei, o quê eu deveria fazer?

— Ei! — falei em um tom alto para que o jovem pudesse me ouvir — O quê você tá fazendo ai?

O senhor que até então se aproximava repentinamente retomou a olhar para seu grupo, o que de certa forma fora um pouco estranho. Achei melhor interagir, talvez estivessem precisando de ajuda.

— Com licença senhor, precisa de alguma ajuda? — Diria enquanto me aproximava.

Era surpreendente ver tantas pessoas em um lugar como este. Um deles vinha em nossa direção, mas por algum motivo, deu meia volta e retornou. Tsuru, no entanto, foi até ele. Senti-me um pouco insegura, então decidi apenas observar, sem sair de onde estava. Apesar da minha cautela, pude ver através de seu sorriso que o homem aparentava ser boa pessoa. Sendo assim, apenas caminhei até o rapaz de cabelos prateados, parando ao seu lado. Não tinha ouvido o que haviam conversado, então resolvi aguardar que ele se pronunciasse.

Enquanto isso, observei melhor aqueles que estavam ao redor. Eram todos bem diferentes, instigando minha curiosidade. Um deles acabou por chamar minha atenção, pois parecia estar bem cansado. Além disso, carregava um animalzinho azul nos ombros, do qual não pude retirar meu olhar. Fiquei dividida entre permanecer ao lado de Tsu ou ir até aquele homem, que não parecia estar com o restante do grupo, assim como talvez necessitasse mais de ajuda. Não sabia ao certo como agir, então optei pela primeira alternativa. Contudo, decidi que, se fosse preciso, iria até aquele rapaz de cabelos loiros.

— Ah, sim. — Diria retribuindo o sorriso do senhor que já se situava em cima de seu cavalo, enquanto observava Airen se aproximar junto à mim. O que era um pouco novo pra mim, ser seguido. Geralmente acaba sendo "aquele que segue". De qualquer forma, acabaria expondo a mochila na dianteira de meu corpo e à abrindo na direção do grupo. Pegaria os pedaços de pão que tinha e ofereceria de um à um. — Não é muito, mas é o que tenho no momento. Espero que ajude.

Um dos senhores pareceu estranhar o pedaço de pão que lhe fora dado. O verificando de todas as formas possíveis até que concluísse que era seguro come-lo. Logo em seguida pronunciou algo, provavelmente se referindo à mim como "mono-olho".

— Eu estava a procura de algo, mas acabei me perdendo. Não sou muito bom com mapas... — Disse pegando o mapa e mostrando com um sorriso desajeitado. — A propósito. Sou Higashiori Tsuru, mas pode me chamar apenas de Tsu, ou mono-olho caso seja de sua preferencia. — Dessa vez diria com um sorriso sutil, me apresentando e logo em seguida fazendo mais uma breve reverência.

Estava distraída olhando ao meu redor, e só voltei a prestar atenção quando ouvi a voz de Tsuru. Me senti um pouco mal por ele dar sua comida a todos, afinal, eu segurava uma sacola de frutos bem grande em meus braços. Pensei em oferecê-los, mas percebi que seria imprudente consumir toda a comida neste momento. Enquanto Tsuru e um homem do grupo conversavam, fiquei quieta e cabisbaixa, um pouco envergonhada por faltar com atenção e permitir que o rapaz entregasse todos os seus pães.

Quando aquele chamado Mannuel disse que "três pessoas" acompanhariam-os, provavelmente referindo-se a Tsuru, o rapaz loiro e a mim, voltei a ficar animada. A ideia de me aventurar com novas pessoas pareceu ser muito proveitosa, portanto, mesmo que não soubesse ao certo para onde iríamos, aceitaria a oportunidade sem hesitar.

Vi aquele rapaz loiro apenas nos observando, talvez estivesse um pouco confuso. Não queria atrasar a partida do grupo, mas resolvi ir até ele em passos rápidos, novamente tomando o cuidado necessário para que nada caísse da sacola.

— Olá. O senhor virá conosco, certo? — falei em um tom gentil, sorrindo — Pode pegar um destes frutos, se quiser.