Cidade de Durenor

"Alice. Uma amiga de infância. Mas pelo visto não é você... ela teria me reconhecido." Respondo, ainda de costas.

- Mas.. - Recuo a mão, um pouco desconfiada, afinal, ele era um estranho e seria idiotice revelar que não possuía memória... por outro lado, ele poderia ser a chave para muitas respostas. - Você deve ter razão... Mas, eu tenho a memória um pouco falha, as vezes esqueço-me das pessoas... - Sorria com a boca fechada.

- Tem certeza de que não sou ela ? É difícil te reconhecer sem poder enxergá-lo...

"Perdão, fui insensível nisso." Volto-me a ela. Meio desajeitado, pego a mão dela para cumprimentá-la e beijo sua mão carinhosamente. "Bem. Se é você, está bem diferente, e diria que para melhor." Respondo. "Gostaria de tomar um café para conversar melhor?"

- Bom, acho que não há problema algum... - Digo me sentindo estranha pelo contato físico com outras pessoas.

"Então vamos." Digo, guiando-a para a conhecida taverna, na falta de um lugar melhor.

Mudança de Tópico: Taverna

- Certo... - Acompanho-o pelas ruas, tateando o chão com a bengala.

Mdt: Tavena

Chego andando pela rua, com passos lentos e calmos. Minhas botas, ao baterem com o chão, provocavam um ruído alto. Estava com um sorriso sádico, olhando para as pessoas da rua.

—Não, ainda não. Se acalme, hihihi! Você não pode fazer isso! Ainda estou no território deles, e isso é nojento!

O sorriso cerrou, transformando-se numa expressão triste.

—Oh, céus! Ouça esse barulho, o murmúrio de almas corrompidas, pelo caos e pelo breu, eu juro que esta escuridão um dia vai ser compensada.

As mãos do elfo logo se ajuntaram sob o coração do mesmo. Tal gesto foi seguido por uma histérica gargalhada.

Saio apressada da taverna, dessa vez percebo novamente meu erro então começo a bater a bengala ao chão como uma cega faria. Os cabelos castanhos balançam conforme mantinha o passo acelerado e o vento batia, mas não me importava afinal minha atenção estava voltada para os dois homens que saíram da taverna logo após que eu sai. Certamente estavam me seguindo a distancia.

Distraído com isso, não percebo quando esbarro em alguém e assim cambaleio para traz, recuperando o equilíbrio.

- Oh, me desculpe eu não v--... - Antes de concluir minha fala, sinto um frio na barriga ao ver a alma daquele elfo, repleta de maldade e caoticidade. Com as faixas me vendando e a bengala na mão, torcia para que o mesmo acreditasse que era uma simples moça cega e somente seguisse seu caminho.

Tombo com a mulher vendada, cambaleando um pouco. Mas logo recupero a postura original. A força dela foi o suficiente para eu recuar alguns metros. Meus olhos brilharam ao fitar sua expressão de certo desconforto, mas também mantenho a calma e tento passar direto por ela.
—Não foi nada. —Murmuro baixo. —Eu sei o que você é, sua força, seus olhos. Mas sua alma não é perversa, por hora não me interessa.
Continuo a caminhar rumo a taverna.

Fico em silencio, um pouco estática com o que o elfo diz mas não o respondo. Apenas me apresso para sair dali o mais rápido possível. Ando pelo centro, tentando despistar os mesmos.

Assim que saio as ruas, corro até o primeiro beco vazio, e dali abro uma fenda para o telhado da taverna, com alguns centímetros acima do que estipulava.

Sinto a leve queda, que me faz tocar o joelho da calça no chão, mas bato o pó da mesma e volto ao meu objetivo. Observo dali de cima as ruas, buscando pela figura da jovem. "Ahh como seria mais fácil se as pessoas pensassem antes de agir..." Digo baixo, mesmo não tendo ninguém para ouvir. Vejo a jovem não muito longe da taverna ainda, e já acho outro ponto para observa-la mais de perto.

Com outra fenda aberta já estou praticamente grudado a ela, desconsiderando a diferença de altitude. Já localizo os dois encapuzados, e já observo os becos nas redondezas que podem me permitir chegar rápido a ela pela rota que ela está seguindo. Agora é apenas aguardar a hora certa.

Paro em um dos becos que ligam aquele grande centro comercial para descansar da correria. Me encosto na parede respirando fundo. O suor escorria e umedecia a faixa nos "olhos" que ao raspar contra minha pele, provocava um grande desconforto, irritando a região.

- Tsc... justo agora... - Passo a mão por baixo da faixa para aliviar a irritação, me distraindo um pouco. Não gostava de becos e estar em um deixava meus nervos a flor da pele, mas permaneceria ali tempo o suficiente para estar em segurança.


- Myrddraal .... - Escuto a voz grave, vindo da entrada do beco. Sem pensar viro o rosto em sua direção e apenas vejo o sorriso brotar em seus lábios. Um dos encapuzados estava ali, parado, certamente conseguiu o que queria. Disfarço fingindo não ter ouvido. Ele começa a andar em minha direção e da manga longa do sobretudo, escorregam algumas laminas até suas mãos. Laminas que ele lança em minha direção sem dizer sequer outra palavra.

Apenas jogo-me á frente puxando a espada da cintura. Consigo desviar da primeira, porem a segunda passa de raspão em minhas costas. Torço levemente os lábios de dor pela ardência do corte, então me posiciono para a batalha.

Tão rápido quanto vejo a lâmina cruzando os ares, também a vejo sumir, conforme meu movimento. Uma fenda aberta na trajetória da lâmina que a fazia desaparecer e ressurgir logo atrás da nuca da pessoa que a arremessou. Agora apenas observava o resultado.

Olho ao redor, atento. Com certeza essa parte não estava nos planos, mas nada que um improviso não possa resolver. O importante era saber que ele não sabia onde eu estava, e a garota também não sabia que se tratava de mim.

Escuto o que ele diz, buscando ao redor quem estaria ajudando-me... talvez... Mas seja quem for, não estava em meu alcance.

- O que você quer ? - Digo ríspida ao homem a minha frente, que então volta sua atenção á mim. Já estava escurecendo e tinha a vantagem, afinal, ele não poderia ver no escuro... ja um Mydraal tem uma visão espiritual. Um sorriso se forma em seu rosto e ele abre os braços, revelando uma adaga em cada mão.

"- Lute comigo... Mydraal... quero ver o quão forte é... E seria melhor se seu amiguinho aparecesse"

Não entendia como ele sabia de minha raça, ou se me conhecia, sequer entendia de quem ele estava falando.

- Não desejo lutar... Apenas saia daqui... - Digo mais ríspida, tentando de alguma maneira evitar essa luta.

Ele ri e da alguns passos para trás, saindo do beco e indo até a rua, onde havia mais espaço então me espera ali, girando suas adagas. Praguejava mentalmente, quando noto que algo se movia em sua sombra para a escuridão da rua que agora estava iluminada apenas por poucas lamparinas em lugares estratégicos.

Levanto-me, empunhando a espada e caminho ficando frente a frente do homem, mantendo apenas alguns metros de distancia de nós dois.

Continuo silencioso observando o desenrolar das ações. O fato de a adaga que transportei ter sumido ainda não me sai da mente. Continuo alerta, rondando os lados, em busca de um possível perigo.

Observo se não havia ninguém ao redor, alguém que pudesse me ver e futuramente me indicar. As ruas já estavam vazias aparentemente. O homem apenas aguardava sorrindo meu movimento, de certo estava muito confiante. Aperto com força a espada e lanço-me contra o oponente, com velocidade mas principalmente com força. Seguro com as duas mãos a espada para que o impacto seja maior, porem ele apenas desvia, jogando-se para trás e para os lados, rindo.

Procuro quem teria me empurrado, visto que havia acabado de olhar ao redor e não ver nada.

"Que belezinha... Então foi você que salvou aquele infeliz..." Digo, virando de volta a tempo de ver o ataque de Nadine sendo evitado pelo outro homem de capuz, e abro uma fenda, trazendo Nadine logo a minha frente, na direção da grande treva.

Em um momento estou atacando um homem, quando no outro estou indo em direção á algo em outro lugar. Avanço alguns passos, correndo ao sair do portal, então paro um pouco perdida. Atras vejo K, enquanto na minha frente posso ver claramente um tipo de pessoa em pé, porem deformada como se fosse uma sombra com um silhueta humana.

- O que ?... onde... como eu vim parar aqui ? - Pergunto sem desviar a atenção do ser á minha frente, porem aos poucos percebendo estar á cima do telhado.


- Hey...... Vai mesmo acabar com a diversão assim ? - O homem la embaixo grita furioso.

As coisas mais uma vez não saíram como desejado, e o impulso que ela havia tomado ela parou antes de atingir meu alvo.

"Essa coisa aí que te puxou para cá." Digo, enquanto começo a rir da cena, por mais que não fosse o momento oportuno.

Vejo o que deveria ser a cabeça se virar ao lado, torcendo-se. Uma cena assustadora e horripilante, ainda mais porque tentava ver sua alma e aquilo, não tinha alma.

- Tsc... isso não é bom... - Comento entre dentes, sentindo o suor escorrer. - Como você veio parar aqui? - Dou alguns passos para tras, de costas para K, para me aproximar sem perder o foco.

"Longa história... Uma pergunta... Sabe nadar?" Questiono, já rindo da situação.