Taverna Flecha Sangrenta

— Missões Hum? — A encarou de cima a baixo e riu. — Que tipo de missões estaria interessada?

Ele sorriu galante e então sacou um vinho tinto, despejando-o suavemente sobre um copo e logo mais oferecendo-o a garota.

Não tirou os olhos do copo. — Não é para pagar. Cortesia da casa. — Então a fitou rígido enquanto se  apoiou ao balção e encarou a porta da taverna.

Voltou a fixar os orbes azulados sobre os castanhos dela. — Não tão difícil mas que ofereça uma boa recompensa? Complicado, não? Mas... Talvez, eu tenha algo em mente.

Não agradeça. — Apenas murmurou.

Suspirou fundo enquanto encontrou-se pensativo. Era suspeito o modo como agia sendo que tudo se tratava de apenas um simples serviço, e a taverna tinha-os aos montes. Não era necessária tanta indagação.

Voltou o olhar dos luminosos orbes azuis a porta e semicerrou os olhos. Por instantes, parecia ter entrado num transe. Suas pupilas se retraíram em miose, tornando-se como as de um lobo e a madeira estalou brutalmente quando o rapaz pressionou os dedos contra a mesma com ferocidade.

Um som grave de passos vieram do andar de cima, e então ele caiu em si, saindo da aparente hipnose momentânea e estremecendo enquanto piscava ligeiramente e engolia seco.

— Bem.. tem algo que talvez você possa fazer. Mas vou mentir se disse que é do catalogo desta taverna. Para falar a verdade, algo bem fora disto...

Desviou o olhar, aflito. Suas pálpebras tremiam enquanto ele tentava formular um meio de pedir a ajuda a garota.

— Escute... eu... eu preciso de ajuda. Por favor. — Sussurrava tremendo, com um certo medo sobre seus poros. Engoliu seco novamente antes de continuar... — Você tem algo diferente, por isso eu...

— Olhe... Eu estou sendo mantido como um prisioneiro aqui, sou um escravo. Eu... eles fazem coisas terríveis comigo, eu já não aguento mais...

As lagrimas se formaram entre os orbes azuis. Era estranho como Hayden havia confiado na garota a ponto de pedir ajuda a mesma de modo tão intimo. Não era da personalidade do licantropo, muito menos algo a ser cogitado. Da ultima vez que o dono da taverna o ouviu cochichando com alguém sobre algo que ao menos parecia suspeito ao mesmo, o pobre lobo fora espancado a chutes e chicotadas.

Ele estremeceu de forma assustada quando Helena o tocou. De fato, sofria incontáveis abusos todos os dias e não podia nem ao menos se defender. Seu corpo estava todo marcado com os mais diversos tipos de machucados possíveis; desde queimaduras a cortes, e hematomas a torções.

— Eu... é... eu. Me desculpe, eu não sei o que estou fazendo. Não sei porque pedi tua ajuda, eu juro que nunca faria isso com uma estranha, com um qualquer. Mas quando te vi, realmente senti este aperto no peito. Como se... Como se você realmente pudesse estar aqui por mim..

Licantropos são abençoados com a tão então conhecida habilidade: Imprinting, que lhes permitem sentir o coração das pessoas.

As lagrimas rolaram abaixo pelo rosto do rapaz.

— Eles me capturaram quando eu ainda era pequeno. E estou aqui desde então, passando por tudo isso dia apos dia. No começo não era assim, sabe? As antigas pessoas que tomavam conta de mim me tratavam bem. Mas quando meu amo morreu, fui vendido a estes miseráveis decrépitos e doentios. Não tem ideia do que fazem comigo... Do que já passei enquanto estive nessa maldita taverna nos ultimos dois anos. Todo o lugar é preenchido por selos poderosíssimos que contem meu poder natural.

Ele fechou os olhos, os abrindo novamente e revelando mais uma vez seus orbes caninos. Subiu as mãos na altura do peito e sacou as garras a garota. — Apenas posso fazer isso porque estamos próximos a lua cheia, mas quando a mesma acaba... Volto a perder tudo novamente.

— O único jeito de romper os selos, é aumentando meu poder natural com uma Runa Lunar. Estou próximo de conseguir uma, pois paguei a alguém para me traze-la. Mas... — Foi quando voltou a ouvir os passos no andar de cima.

Começou a sussurrar, apenas para que Helena o ouvisse. — Mas mesmo assim não posso dar conta de todos eles sozinho. Não são apenas velhos moribundos, são caçadores, da antiga linhagem. Fazem isso desde que nasceram... acredite, podem decepar sua cabeça sem ao menos lhe deixarem ver o que te atingiu.

Ele estremeceu outra vez. Infelizmente não estava habituado a relacionar o toque a algo bom. Suspirou bem fundo e então sentiu a pena em suas mãos, levemente a apertando para senti-la sem danifica-la.

— Obrigado... Obrigado de verdade. E-Eu... E-Entenda... E-Eu.. Eh.. — Ele não tinha palavras para expressar sua gratidão, muito menos dizer o quanto se sentia mal por te-la envolvido naquilo tudo. — Escute. Precisamos esperar aquela garota. Ela vai trazer a Runa. Mas até la... não sei como posso te fazer para te manter por perto sem faze-los desconfiarem..

— T-Tem certeza?

Olhou aflito perante os barulhos de cima.

— Certo... sente-se em alguma mesa e... vamos esperar...

Engoliu seco enquanto limpou as lagrimas nos olhos, voltando então a trabalhar e tentando ao máximo disfarçar o recente choro sobre as bochechas.

Hayden viu Emerald entrar no salão e rapidamente jogou os copos a pia antes de acenar com a cabeça de modo serio. Era visível a loira que este estava com os olhos lacrimejados e as bochechas e nariz vermelhos.

Os olhos de Hayden eclodiram, enquanto seu coração passou a bater como uma locomotiva. A Runa caiu em suas mãos e ele a apertou com extrema vontade. As escrituras e símbolos da pedra desceram por seu braço e os olhos caninos do licantropo se retraíram mais ainda, adquirindo uma coloração azul-piscina, como duas grandes aquamarines. A energia percorreu seu corpo enquanto o mesmo a absorvia. Quando deixou a pedra, agora nula e sem poder algum, cair ao chão; se contraiu contra os joelhos, sentindo uma sensação mista de dor e êxtase ao mesmo tempo. Se levantou com o rosto, já seme mutado, adquirindo uma feição licantropa, com seus caninos afiados e orelhas pontudas. Mas os orbes aquamarines eram o que de fato mais assustavam. Não perdeu tempo em correr até a saída da taverna e enfiar o braço pela porta com tamanho ódio. Os selos se ativaram, revelando uma parede magica incandescente. Suas garras colidiam com a energia até a mesma explodir e se dissipar. Havia destruído os selos, e agora a tormenta viria.

— Se preparem... — Se virou para as duas, dizendo com a voz rouca como a de uma besta.