Cidade de Innsmouth

"O sangue dessa garota é delicioso... Eu poderia sugar todo ele... Hey! Não vá matá-la!"

Escuto tudo o que aquela garota estava dizendo e por instinto a puxo para mais perto de mim, colando-a a mim, puxo mais um pouco de sangue, engulo uma parte dele e deixo a outra na boca, fecho meus lábios e solto o pulso dela, levo minha mão até a nuca da garota e puxo seu rosto para o meu, a beijo e deixo parte do sangue da mesma ir para sua boca, porém, sem deixar de beijá-la.

Seus olhos fecharam automaticamente quando sentiu sua nuca ser puxada, ia protestar, mas o gosto férreo na boca a impediu. Como conseguiam gostar daquilo? Lembrava vagamente de quando machucava a boca e um filete de sangue surgia, o sabor nunca havia lhe incomodado de fato, mas em grande quantidade causava náuseas.

Desta vez permitiu que o beijo durasse um pouco mais, afastando-se só quando todo o líquido rubro já tivesse acabado. ー Samael, não sei para você, mas isso tem um gosto meio estranho para mim. ー Tossiu com o gosto amargo ainda na boca e levou a não machucada para limpar os lábios, foi quando reparou na ferida do pulso.

- Se me permite dizer, o teu sangue é um dos melhores que já provei... Delicioso e uma completa tentação... Igual a dona dele.

Passo um dedo no canto da boca dela, a limpando, e deito a cabeça da mesma em meu peito, a cobrindo mais com a capa.

- Eu gostaria que não parasse de chover e de você estar sempre perto, algo em ti me agrada. - Comento sussurrando.

Logo a ferida não estava mais ali é antes que pensasse em algo para falar, ouviu o elogio. Ficou em silêncio, refletindo sobre o efeito que elas faziam em si. ー Algo em mim? ー A possibilidade de possuir algo de especial e que isso agradasse a pessoa, lhe arrancou um sorriso de alívio, assim como a última fala dele fez com que ficasse constrangida.

ー A missão. ー O sorriso murchou e sua pele pareceu ficar novamente gelada. ー Meu Deus, eu tinha esquecido! Eu preciso... ー Engoliu em seco. Esquecerá completamente o motivo de estar naquela cidade, ainda tinha que se desculpar com Helena.

A olho e noto seus batimentos mudarem.

- Missão?

Mesmo quando Sarah me mandou embora, eu permaneci sob uma das casas próximas observando a situação. Já estava na hora de nos encontrarmos com Heinz e os outros, mesmo que ela não gostasse teríamos que ir embora.

Rapidamente saltei do telhado parando um pouco a frente de ambos, voltando meu olhar para Sarah com uma expressão séria.

- Temos que ir, agora. - Cruzei meus braços e aguardei até que ela me respondesse alguma coisa, e então notei seu olhar confuso. - Não fui embora, acha mesmo que eu deixaria você nessa cidade com alguém o qual não confio?

ー Sim, estávamos no meio de uma missão. Você pode vir conosco, Samael. Creio que se eu explicar para Helena, ela entenderá. Mas não ouse beber o sangue dela ou das outras garotas. Hm, melhor, não beba o sangue de nenhum deles. ー Afastou a cabeça para poder olhá-lo melhor, desta vez ela sorria mais animadamente.

ー Credo Helena, que susto! ー Deu um pulo quando ouviu a voz da Helena, em parte estava feliz em saber que ela não a abandonará, mas a outra alertava dizendo que ela estar bastante brava. ー Samael? E sobre aquele pacto? Fale-me mais sobre. ー Virou-se para o vampiro, esperando sua resposta.

Heinz viu as duas garotas de seu grupo se afastar, e olhou-as de longe enquanto amarrava seu cavalo numa viga de madeira da forja da cidade. Teriam encontrado alguma coisa? Assim que saíram subitamente de seu campo de visão, o soldado tentou acompanhá-las. Prestes a fazer uma curva entre as ruelas, deparou-se com as moças.

- P... Por que se afastaram? - Perguntou, com a sobrancelha arqueada.

As palavras vindas de Sarah foram como punhaladas em meu peito, o que me fez virar as costas para ambos e esperar que tudo aquilo acabasse logo. Olhei para o céu, continuava da mesma forma, o ar da cidade era difícil para se voar, os ventos não contribuíam independente da direção que tomasse.

- Sarah, irei até onde estava antes, me encontre lá por favor, precisamos começar a missão. - Voltei a andar, e dessa vez realmente me retirei do local.

Não demorou muito até que chegasse até onde Eron estava, da mesma forma com que eu havia o deixado. Parei a sua frente, dessa vez sem cobrir meu corpo da chuva.

- Quero lhe fazer uma proposta, em troca disso. - Retirei uma das espadas da cintura e passei pela palma da mão, vendo o sangue escorrer livremente numa linha carmesim. - Mais tarde, quero o encontrar novamente, pois agora tenho assuntos a resolver.

Helena tinha lhe dado as costas. Ela havia ido embora sem dar uma resposta, aquilo a pegou de surpresa e atordoada. Deu as costas para onde a morena se encontrava, seu orgulho sempre falaria mais alto, mas bem no fundo, acreditava que poderia resolver aquele problema com uma boa conversa. Seu olhar parou em Samael, que estava de cabeça baixa e ajoelhado a sua frente, movimentou a mão até o queixo dele e o puxou levemente para cima. ー Eu serei a sua mestra de hoje em diante. ー  Sorriu gentilmente e selou seus lábios nos dele, em um beijo mais simbólico.

Sua cabeça pendeu para o lado, na tentativa de ver o caminho pelo qual seguiram. ー Samael, precisamos ir. ー

ー E Samael, pode me chamar apenas de Sarah. ー Olhou para ele uma última vez e se concentrou no caminho. Conteve-se para não correr e explicar tudo para Helena, pois viu que ela estava ocupada. Ao invés disso, aproximou-se mais de Samael até que seu ombro estivesse colado na lateral do corpo dele. ー Você tem que se desculpar com ela, entendeu? Sei que ela entenderá, provavelmente. ー

ー Entendo, se prefere assim. ー Esfregou a mão na nuca, procurando se distrair e não deixar o constrangimento transparecer. ー Ordem... Precisamos conversar sobre esse tratamento. ー

Olho para a garota e ponho uma mão em sua bochecha, a acariciando.

- Eu sou seu escravo agora, tudo que me mandar fazer eu farei, mas todas serão ordens.

ー Escravo? Samael, eu não gosto disso. ー Olhou-o com reprovação, não pelo toque, mas pelo termo. A última coisa que queria era escravizar alguém. ー Se diz. ー Suspira e da de ombros, dando-se por vencida quanto aquela questão.

- Certo.... - Heinz olhou para ambas, confuso. Depois, focou seu olhar em Airen - Peço que nos avise quando o caso for assim... De qualquer maneira, há algo com o qual devamos nos preocupar? - Sua voz soou séria, mas não repreensiva.

- Em outras palavras, agora eu sou apenas teu.

A puxo para um abraço, acariciando seus cabelos.

ー Samael, os outros vão ficar olhando. ー Desfrz o abraço enquanto olhava para os lados, principalmente para onde Helena se encontrava. Depois, com um suspiro, voltou a olhá-lo. Pensou na primeira vez que se encontraram e de como estava diferente naquele momento. ー Era isso que precisava? Sangue? ー

Fecho meu sorriso assim que ela deixa de me abraçar, cruzando meus braços.

- Você já parou para pensar que sou um pessoa ruim?[i] - Me abaixo um pouco, fazendo meus olhos ficarem próximos aos dela. -[i] Você se esquece que sou um monstro e que fiz aquilo por simples prazer. - Abro um sorriso de canto e sussurro baixo para ela não escutar. - Mais precisamente, do teu sangue.