Cidade de Innsmouth

Expliquei tudo que vi, começando por um resumo sobre os deuses anciões, já que duvidaria que o justiceiro saberia sobre. Depois do resumo, falei como foi entrar no túnel, e no possível "sonho" que tive com a criatura de vários olhos e tentáculos. Por fim, falei sobre acordar numa cama e tentar sair, falando que logo em seguida, fui atingido por um dardo na nuca, na qual me paralisou. Contei sobre as pessoas, suas características físicas e emocionais quando me encontraram. Falei sobre os pergaminhos que contavam sobre como invocar Yog-sothoth e outras maldições. Por último, deixei pra falar o motivo de sair correndo e aparecer como apareci na frente deles; A sala que eu iria nomear, por enquanto, de "sala do sacrifício". Contei sobre como os corpos estavam empilhados sem vidas, todos massacrados.

— O que iremos fazer ? — perguntei, iniciando minha inexpressão, com a cabeça virada para Heinz — Acho que devemos ouvir Helena, e chegar em uma conclusão em conjunto — falei, dando a primeira opinião, e, depois de ouvir o que Heinz iria falar, comecei a andar para aonde estava Helena, Sarah e o resto do pessoal.

Qual era daquela atitude? Ele estava sendo mais teimoso que o normal, então só pode concluir que algo estava lhe incomodando, ela só não sabia o que era. Com um suspiro cansando, virou o corpo para seguir até Samael, mas suas pernas travaram e ela começou a sentir uma ardência. Mordeu o lábio para evitar um lamento em voz alta e se agachou discretamente, abraçando as pernas contra o peito enquanto tentava controlar a respiração.

Vejo que a garota estava meio estranha e vou até ela, me agacho em seu lado pondo uma mão em seu ombro.

- Você esta bem Sarah?

Cruzei os braços e esperei por minha vez, impaciente. Três dos que estavam conosco haviam desaparecido, e isso me deixava ainda mais inquieta. Pensei em ajudar Sarah, mas seu vampiro já estava lá, então permaneci no mesmo lugar.

- Heinz? - Chamei a atenção de ambos, questionando se poderia ou não começar a falar.

Heinz ouviu a rajada de palavras proferidas por Mannuel, sem nenhum intervalo ou pausa. Não compreendeu tudo, mas ele parecia perturbado demais para repetir e o melhor seria que o justiceiro verificasse por si próprio. Tamanha era a pressa do myddraal que Heinz sabia que ele não estava apto nem para ouvir sua resposta e já partiria para falar com Helena. Obedecendo assim o ritmo do companheiro, Heinz apenas confirmou e foi até o grupo que havia se separado deles.

Ao sair da parte de trás da forja o soldado viu Sarah. Ele tinha cada vez mais certeza de que a garota não era das mais fortes ou equilibradas, e para sua sobrevivência seria mais seguro que deixasse a missão e esperasse até que fosse completada. Entretanto, aquela era uma questão que deveria discutir apenas com ela e Mannuel. Focou-se no momento nas informações de Helena.

- Certo, Helena, Agora me explique o que sabe sobre a pousada. Depois disso, me diga o que as atrasou tanto e me diga quem é o senhor que as segue. - Disse, desviando por um momento o olhar para Samael.

Sabia que ele estava se referindo a Samael, o que me fez dirigir um olhar de desgosto para o lado.

- Essa 'pessoa' foi o que nos atrasou. - Indiquei para onde o vampiro estava, balançando a cabeça. - E agora, bem, creio que é melhor que Sarah explique a relação que mantém com ele. - Mudei o peso de uma perna para outra, e voltei a falar. Expliquei que havia possuído o cidadão, retirando dele as informações sobre Troy e os desaparecimentos ocorridos depois que viajantes passaram pela pousada. E finalizei sobre a estranha situação que passou a permanecer na cidade quando o homem chamado Troy apareceu com os artefatos.

- Basicamente, é isso. - Fitei Mannuel e depois o soldado, aguardando uma resposta. - Acho que já terminei o que precisava fazer aqui.

— Quem é esse Troy ? — perguntei, com a cabeça virada para Helena — Aonde eu estava também citaram coisas como essa — continuei, apressadamente. Não conseguia se manter muito calmo, mas dei um longo suspiro, e acabei ficando um pouco mais calmo.

— Diziam que o Troy iria matar eles por eu estar lá — complementei.

Estreitei os olhos com as palavras de Mannuel, coisa que não me surpreendia.

- É o cara que manda na cidade, o responsável por aparecer com alguns artefatos feitos de ouro. - Tomei folego para continuar, já agoniada com aquele lugar. - Depois disso, ninguém nunca mais morreu, ou ficou doente.

Heinz ouviu as palavras atentamente. Suas sobrancelhas se arquearam quando ouviu que Sarah mantinha algum tipo de "relação" com o homem de armadura. Sua confusão logo foi passando a medida que focava-se no que lhe era interessante para sua missão. Ao fim das informações, Heinz abaixou sua cabeça e deslizou seus dedos pelos lábios e pelo queixo.

 - Perdão, meninas. Maldição... - Disse baixo, num suspiro. Logo ergueu a cabeça novamente para agelum - Não sabia da capacidade de sua raça de entrar na mente dos outros, apesar de já ter lido sobre vocês, senhorita Helena. Agradeço seu bom trabalho. - Logo após ele se virou e olhou para Sarah. Seu olhar não demonstrava exatamente satisfeito com o trabalho que ela desempenhava até então. - Senhorita Sarah, peço que venha até aqui e me explique de onde conhece nosso companheiro ali. - Ele apontou com o queixo para Samael - Seja breve, temos problemas mais importantes. Mannuel, peço sua participação na conversa.

ー Estou. ー Respirou fundo e levantou-se vagarosamente na tentativa de aliviar a dor, o que não deu muito certo. O pânico que começou a sentir, causou um zumbido em seu ouvido, deixando-a alheia a fala de Helena, só foi capaz de se concentrar no pedido de Heinz porque este veio seguido de um silêncio.

ー Sinto muito, estou aqui para auxiliar na sua missão. Não para lhe dar satisfação com quem eu ando. Ele não vai atrapalhar, pelo contrário, vai ajudar. É somente isso que preciso lhe falar. Se realmente tem problemas tão sérios, vai aceitar isso. ー A dor em suas pernas não ajudava para que seu humor melhorasse, ainda mais quando sentia que estava sendo controlada. Olhou para Mannuel com um misto de irritação e desapontamento, mas logo virou o rosto novamente para o soldado.

Heinz não manteve mais seu tom tolerante diante da arrogância súbita de Sarah. Adotou uma postura mais séria, ajeitando sua coluna e unindo as mãos nas costas.

- Está enganada em tudo o que disse agora, senhorita Sarah. - Começou, arqueando ligeiramente a sobrancelha. - Não está me fazendo favor algum estando aqui, você está trabalhando para mim e sendo paga para isso. Não quero saber com quem você anda por curiosidade, quero saber quem é esse homem porque essa é uma missão de extremo sigilo, e quem cuida do recrutamento sou eu. Se eu sentisse minha privacidade invadida pelos homens para quem trabalho eu iria pedir afastamento do meu posto, mas ainda assim manteria meu tom baixo. Afinal, superiores são superiores. - O soldado então desmanchou sua postura e virou seu corpo para Mannuel, incluindo-o agora na conversa - Você acaba de confirmar minhas suspeitas: Eu não lhe considero emocionalmente estável, e você também não me parece bem fisicamente. Sugiro que aguarde até que a missão seja completada com o homem que trouxe, para seu próprio bem. Não se preocupe, ainda receberá seu pagamento por nos ajudar até aqui. Essa é apenas uma sugestão, afinal penso que Mannuel seja responsável por você antes de mim.

O justiceiro acenou com a cabeça para o myddraal e os deixou para tomarem a decisão, e então foi até Helena.

- Senhorita Helena, pelo que me disse Alierris e Airen correm grande perigo. Eu irei com Mannuel até o lugar de onde ele veio para explorá-lo completamente e adicionar mais ao meu relatório. Precisa impedi-las de chegar à pousada, por favor. Pelo jeito que estavam cansadas, devem estar na metade do caminho ainda. Como você também deve estar cansada, use meu cavalo que está amarrado logo ali - Ele se virou para o cavalo amarrado na vida de madeira da forja - Apenas deixe-as em segurança e eu e Mannuel iremos lhe encontrar para descobrirmos mais sobre essa pousada. Pode fazer isso?

Ponho uma mão minha na cintura da garota, para o caso dela precisar de apoio.

- Vamos, você precisa descansar minha mestra...

— Faça o que você, ou esse cara ai, acharem melhor — fiz a resposta soar menos áspera possível, mas não pareceu ter sido muito bem feita. Além disso, indiquei "esse cara ai" mexendo a cabeça em direção do homem que acompanhava Sarah no momento.

Logo em seguida, fui até o cavalo que estava livre e me virei para Heinz.

— Creio que precisaremos chegar cedo e economizar energias — propus, enquanto meu rosto estava virado para Heinz. Meu rosto voltou a ficar virado para o cavalo, e o desamarrei. Não me importava se Heinz iria contrariar, só dei a ideia de ele vir junto comigo, ou pegar outro cavalo. Em seguida, tomei a frente, montando no cavalo e esperando por Heinz.

Bufou diante da resposta do soldado, não estava com paciência para discutir, muito menos com alguém que se apoiava demasiadamente em religião. Deu de ombros e tocou o braço de Samael, indicando que ainda poderia andar sozinha. ー Soldado, não sou uma criança para ter alguém responsável por mim. Apenas veio a calhar o fato de viajarmos juntos. Pois bem, neste caso, estou me retirando da missão. ー

O que Mannuel tinha de arrogância e teimosia, Sarah tinha de orgulho. Deu as costas para o grupo e chamou Samael para ir junto, apoiando-se discretamente em seu braço. ー Ah sim, acho melhor você ter sido mesmo um bom homem e ter reservado seu lugar no paraíso, sei que vai precisar. ー Esperou somente que Samael iniciasse a caminhada para sair dali.

Jogo a capa por cima dos ombros da garota e a olho, ela parecia estar sofrendo com alguma coisa, era tão delicada.

- Tem certeza que esta bem? Posso lhe carregar se quiser...

ー Por enquanto não precisa, mas obrigada mesmo assim. ー Não queria admitir em voz alta que precisava de ajuda, suas pernas ainda obedeciam aos seus comandos, embora cada passo fosse uma pontada de dor. Não sabia para onde deveria ir, quis sair daquela cidade, mas sentiu que não deveria fazê-lo, até porque não sabia se aguntaria a dor nas pernas para uma longa viagem. ー Samael, preciso descansar. Um lugar quieto, mas não podemos sair da cidade. Conhece algo assim? ー

Olho para a garota e vejo a dor estampada em seu rosto, acabo por me decidir que a ajudaria, mesmo ela se negando a dizer que precisava, em um movimento rápido eu a pego no colo, aconchegando-a em meu peito para impedi-la de se mexer e até mesmo de tentar escapar, após me certificar que ela não escaparia, aperto meu passo observando aquela cidade na procura de uma casa que não estivesse ocupada e eventualmente abandonada, o que de fato não seria díficil de encontrar. Após alguns minutos procurando, acabei por encontrar uma casa vazia, pus Sarah no chão e forcei a porta para abri-la, regulando minha força para não quebrar a mesma, assim que abri a porta olhei para a mesma.

- Entre, poderemos descansar aqui.

Não teve chances de protestar, nem mesmo tentou já que ele não lhe daria ouvidos, apenas bufou de frustração e deixou que ele cuidasse do local. Quando encontraram uma casa e ele a colocou no chão, ela deduziu que já conseguiria andar se ajuda, mas ao dar o segundo passo para dentro da casa, ela cambaleou e recuperou o equilíbrio por pouco. ー Certo, obrigada. Agora... Bem, vou tentar descansar um pouco, se é que isso é possível... ー O que mais a assustou, não foi a quantidade de casa desocupadas, mas sim que todas tinham uma grossa coberta de poeira moldando tudo, mas aquela, era apenas uma camada bem fina, o que a fez pensar na família que não a muito tempo, abandonou a aquela casa. ー Que cidade estranha, não sei como conseguem viver aqui. ー

Prefiro me manter em silêncio, apenas fecho a porta e entro na casa, retirando meu elmo e minha capa, estendendo-a no chão para a garota se deitar e não se sujar, retiro minha espada de minhas costas e a coloco apoiada na parede, me sento perto de onde a garota deveria se deitar.

- O que aconteceu entre você e Helena? E sim, eu notei que algo aconteceu, apenas não sei o que. E não minta.

Colocou a trança na frente para não machucar a cabeça e deitou lentamente de lado na capa, encolhendo as pernas e massageando a coxa. ー Nada de realmente importante. ー Estava tão concentrada em fazer a dor parar que nem mesmo deu a devida importância para a pergunta. Olhou pela janela ao lado da porta e reparou no fraco feixe de luz que ela emitia, estava nublado e chuvoso, o clima certamente não colaborava para melhorar seu humor.