Taverna Flecha Sangrenta

Com os sacos já em mãos, não pensei nem duas vezes e saí da taverna em direção a Hammerfall.

Chego a taverna queixando em meus pensamentos. "Não podia haver um lugar um pouco melhor?" Definitivamente essa cidade precisava de boas melhoras.

Me dirijo a primeira mesa vazia que vejo, e observo se ali ao menos teremos alguma paz e conforto. Puxo a cadeira para a moça sentar e em seguida me sento. "Bem, bem... Cá estamos."

Mihaela entrou na taverna e aproximou-se daqueles dois que acabam de chegar ao local, pouco antes dela. Por pura e espontânea vontade, a garota sentou-se naquela cadeira.

"Obrigada, sério. Mas não vai puxar a outra cadeira para a menina também? Nossa, achei mesmo que você fosse educado."

Assim que iria sentar "vejo" a jovem tomar meu lugar, sentando na frente. Afinal que tipo de pessoa é essa que senta na cadeira de uma "cega"? Fico sem reação por algum momento, então disfarço novamente.

- Quem está aí? O que aconteceu? - Tateio o ar, disfarçando, até encostar na face da garota.

"Não se preocupe. É apenas uma amiga mais bem de vida que se propôs a bancar nossa estadia na cidade..." Digo a jovem que me acompanha, enquanto puxo outra cadeira para ela. "Vamos, seja educada e se apresente a moça, já que lhe tomou o assento."

"Ah." Bom, ela não tinha notado que a moça era cega, que descuido de sua parte. Era para ter sido uma brincadeira, então a assassina logo dirigiu-se a ela. "Sou Mihaela Montblanc. Como um pedido de desculpas, posso pagar sua estadia na taverna."

- Muita bondade sua Mihaela, ainda não sei o nome de seu "amigo"... - Sento-me colocando a bengala no colo e as mãos sobre a mesa.

"Não faça cerimonias. Já disse que pode me chamar de K. Simples assim." Completava rápido, buscando guiar a conversa de maneira conveniente para mim. "E como vão as coisas, Mihaela? Faz tempo que não te vejo."

"Ah, não é nada" Respondeu em um pequeno sorriso. Ela levantou a sobrancelha ao ouvir a pergunta de seu 'amigo'. "Não tenho novidades para contar. Pretendo procurar por uma missão, apenas. O que você anda aprontando?"

Fico em silencio "observando" os dois. Obviamente os dois não se conheciam pelo teatro que suas expressões diziam, mas deixava-me levar, afinal, não sabiam que eu podia ver, então, entraria no jogo deles.

"Nem estou aprontando mais nada. Decidi sair dessa vida e me tornar alguém de bem. Não se pode ficar preso aos traficantes de escravos a vida toda. Finalmente consegui me livrar daquele mundo sujo." Respondo a ela, passando o dedo pela mesa. "Talvez me aventurar seja uma saída saudável."

Traficantes de escravos, hein. Não sabia o que aquele rapaz pretendia, realmente, mas nada fez quanto a essa 'brincadeira'. "Parece divertido. Me aventurar era minha intenção desde o início. Aliás, moça, você não se apresentou." Disse, direcionando suas palavras à jovem cega.

"Me lembro disso. Até me surpreende que já não tenha iniciado essa vida." Respondo a ela, simulando lembranças que nunca tive.

- Oh, me desculpe... sou Nadine Hanswel... - Volto a responder conforme me incluem na conversa, mas não gostava muito disto. - ... Acho que não seria uma boa aventureira, prefiro a paz e o sossego de minha casinha, numa vila tranquila com pessoas calmas...

"Mas não gostaria de explorar o mundo afora e conhecer novos lugares?" Respondo a ela, segurando seu braço e o esticando, em direção ao alto, como que apontasse para as estrelas.

"Eu andei ocupada" Respondeu-o. Aquele joguinho era realmente estranho. "Prazer em conhecê-la, Nadine." Disse à moça, e de sua língua quase escapou uma pergunta sobre livros. Pensou por um momento que, já que ela era tão tranquila, deveria gostar deles-- mas, é claro que não.

"Sempre ocupada demais para aproveitar a vida." Respondo, ainda segurando o braço de Nadine estendido ao alto. Desço o braço dela gentilmente, pousando minha mão sobre a dela.

Puxo a mão para minha direção, quando ele a toca levando ao alto.

- N-não... não tenho interesse em nada do tipo, afinal, como alguém como eu, poderia "ver" um mundo no qual diz.... - Começo a ficar um pouco nervosa com aquela conversa, afinal poderiam descobrir segredos meus, poderia falhar em minha interpretação. - Bom, acho melhor ir antes que as lojas se fechem, e obrigada, aceitarei a estadia aqui hoje, será muito útil.

Pego a bengala e a apoio no chão, levantando-me em seguida.

"Gosto de me ocupar para aprender" E seu conhecimento aumentaria muito mais ali, fora de seu lar. Se todas as pessoas eram como esses dois estranhos, ela realmente não sabia de nada ainda.

"Como eu disse, sem problema. E... há mais do que apenas coisas para ver, então não se preocupe." Disse Mihaela, antes de ir direto ao balcão.

"Há mais maneiras de sentir o mundo a sua volta e aprender sobre a vida do que apenas vendo, linda senhorita." Sussurro no ouvido da jovem, e então ouço Mihaela me responder. "Aprender é bom, mas por o aprendizado em pratica, melhor ainda. Sempre te disse isso." Digo, confiante. Aqui estava meu cenário perfeito. "Quanto a você." Volto a segurar a mão de Nadine. "Se precisar de qualquer coisa, não exite em me chamar." Respondo a ela. "Estarei no quarto ao lado, como Mihaela providenciou como um presente a nós."

"Nah, K. Não tem presente para você." Respondeu em alto e bom som, para que ele ouvisse. Não iria pagar a dos dois, é claro, quem sabe o dinheiro lhe viria a ser útil mais à frente?

"Com licença, gostaria de pagar a estadia de Nadine, a moça vendada." Disse ao funcionário(a) no balcão.

- Caralho, é só dormir que isso vira um puteiro - Resmungava, batendo com a mão fechada no balcão e olhando para Neeltath - Aí, seu puto, tive uma ideia. Me segue. Dizia, levantando-se e saindo da taverna.

- Caralho... - Disse, enquanto seguia Adelrik tranquilamente.

"Mas que malvada." Cruzo os braços, desaprovando a ação dela. "Ok. Mas você vai dormir aqui conosco, certo? Em quartos separados, claro." Questiono ela.

Me afasto um pouco desconcertada pelas reações do rapaz misterioso chamado K. e de sua amiga Mihaela, então sigo em direção a porta, passando por ela logo após as duas pessoas que sairam.